segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Pioneiros da Educação Nova – Anísio Teixeira e Paschoal Lemme.

Pioneiros da Educação Nova – Anísio Teixeira e Paschoal Lemme.
(Trechos de Textos selecionados).
História da Educação.
Prof. Humberto Carlos M. Canha.

ANISIO TEIXEIRA
A escola deve oferecer um ambiente social – simplificado – desde que a complexidade contemporânea é inassimilável em seu todo pela criança; um ambiente social purificado, isto é, expurgado dos seus maus elementos e especialmente propício ao desenvolvimento dos aspectos sãos da vida moderna, e por último, um ambiente equilibrado, no sentido de harmonia a amplidão. (...).
A escola deve prover a um meio em que a experiência infantil se realize no circulo mais amplo possível, a fim de cooperar para um progressivo equilíbrio e harmonia sociais.(...).
Educar é, assim, uma função social que controla, guia e dirige a atividade infantil. Mas, sendo uma função perfeitamente vital e natural, ela se deve exercer em perfeita concordância com as tendências das crianças a que apenas oferece as adequadas condições de desenvolvimento e crescimento.(...).
Educar é definir, focalizar e coordenar os movimentos para uma resposta justa e apropriada.(...).
A essa educação obtida por motivos puramente externos, chama Dewey treino. A verdadeira educação se processa com o segundo passo, quando o educando não somente aprende uma nova coisa, mas a compreende e participa do seu sentido social.(...).
Daí a conclusão de que o processo educativo não tem fim além de si mesmo, mas é o seu próprio fim; o processo de educação é o processo de contínua transformação, reconstrução e reajustamento do homem ao seu ambiente social móvel e progressivo.
(TEIXEIRA, Anísio – Sentido atual de Educação, in: Aspectos americanos de educação)
O sistema de educação do estado democrático moderno, convém repetir, não é tal sistema, mas o de escolas públicas destinadas a oferecer oportunidades iguais ao indivíduo e ministrar-lhe educação para o que se costuma chamar de eficiência social, ou seja, o preparo para o exercício das suas funções sociais de cidadão, de trabalhador (concebido o termo sem nenhuma conotação de classe) conforme as suas aptidões e independente de suas origens sociais, e de consumidor inteligente dos bens materiais e espirituais da vida. Esta educação tem, pois ela, em todos os seus estádios, os objetivos que antes se dividiam pelos diferentes sistemas escolares: o de cultura geral, o da formação prática ou vocacional, o de formação profissional e o de formação para o lazer. Daí, constituir-se um sistema contínuo, integrado e aberto a todos, em condições de igualdade de oportunidades.
(TEIXEIRA, Anísio – Estado atual da educação, in: Revista brasileira de estudos pedagógicos. Rio de Janeiro, v. 39, n.89, jan/mar, 1963).



PASCHOAL LEMME
Quanto mais atrasado é um país em seu desenvolvimento, maior é a diferença entre a educação rural e a urbana. Essa diferença tende a nivelar-se à medida que o país evolui econômica, social e culturalmente (...). A educação é um fato social condicionado por outros fatos que a determinam. A escola é capaz de influir nos processos de evolução. Entretanto, a crença de que as reformas educacionais podem transformar uma sociedade é antinatural e anti-histórica". (LEMME, Paschoal. Progredir ou desaparecer, in: Memórias 3).
Quase tudo o que tenho escrito sobre educação, ao longo dos quarenta anos que nos dedicamos a essa atividade (1924-1964), tem tido caráter polêmico e militante. Por isso mesmo, não nos tem sobrado tempo para produzir obra sistemática, o que seria pessoalmente mais envaidecedor, mas, sem dúvida, muito menos útil para os objetivos que sempre perseguimos.
Desde que compreendemos que o artífice das transformações sociais ineludíveis é o próprio povo devidamente esclarecido, e dessas transformações depende, em cada estágio, o aumento das oportunidades do gozo dos bens materiais e culturais, criados pelos próprios homens, nosso objetivo, ao escrever sobre educação e ensino, passou a ser muito mais o de tentar esclarecer o público em geral sobre os problemas em causa do que elaborar trabalhos de caráter técnico para serem discutidos por um reduzido número de especialistas.
Nesse sentido, foram os aspectos políticos dos problemas de educação e ensino que estiveram sempre na mira de minhas preocupações principais, e dentre eles dedicamos especial atenção ao fundamental, que é o de procurar demonstrar que reformas de educação e ensino não transformam a sociedade, mas, ao contrário, são as transformações sociais que, na medida em que se processam, impulsionadas por fatores básicos internos à própria sociedade, é que passam a exigir mudanças na orientação e na organização da educação e do ensino para a tender às novas condições criadas. Assim, cada período histórico típico produz formas de educação correspondentes à estrutura social respectiva, e é o estudo dessas formas – conteúdo, instituições, organizações e métodos – que constitui a história da educação. (LEMME, Paschoal, in: Apresentação, in Memórias3).

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