quarta-feira, 13 de agosto de 2008

MATÉRIA PROFESSOR PEDRO.

REGO, Teresa Cristina. Vigotsky: uma perspectiva histórico-cultutal da Educação. 16. ed. Petrópolis, Vozes, 2004.

CAPÍTULO 1
- Vygotsky: morreu aos 37 anos, de Tuberculose.
- Interesse central: gênese dos processos psicológicos tipicamente humanos em seu contexto cultural.
- Fez inúmeros trabalhos interdisciplinares; interesse por crianças especiais. Nos últimos 10 anos de vida, dedicou-se a estudar os processos de transformação do desenvolvimento humano em suas dimensões filogenéticas, histórico-sociais e ontogenéticas (e também nos postulados microgenéticos), com destaque para o estudo de mecanismos mais sofisticados da psicologia humana: controle consciente do comportamento, atenção e lembrança voluntária, memorização ativa e pensamento abstrato, raciocínio dedutivo, capacidade de planejamento, dentre outros.
- Vygotsky não pretendia elaborar uma teoria do desenvolvimento infantil, mas recorreu à infância para explicar o comportamento em geral. Seguindo tal caminho, sugere que a cultura faz parte da natureza de cada pessoa, na medida em que a história individual e social se relacionam.
- As idéias de Vygotsky estavam em consonância com o desenvolvimento da sociedade soviética pós-revolução. A psicologia, na época, oscilava entre uma visão empirista-mecanicista e outra mentalista. Vygotsky pretendia ir além das duas visões, buscando explicações para as funções psicológicas superiores. “O comportamento adulto é culturalmente mediado, sendo que a linguagem é o meio principal dessa mediação”. Há uma fundamentação marxista nos pressupostos de Vygotsky e, mesmo assim, sua obra foi proibida na União Soviética de 36 a 56, sendo redescoberta a partir daí e no Brasil, muito tardiamente, na década de 80.
- Vygotsky, juntamente com Leontiev, Luria e colaboradores formaram a troika, seu grupo de estudos sobre o desenvolvimento humano.
CAPÍTULO 2
- Objetivos principais de Vygotsky: caracterizar os aspectos tipicamente humanos do comportamento e elaborar hipóteses a respeito de como essas características se formam na história humana e como se desenvolvem durante a vida de um indivíduo. PARA TANTO, seria preciso: 1) estabelecer as relações entre ser humano e ambiente físico e social; 2)examinar as relações entre trabalho, ser humano e natureza e suas conseqüências psicológicas; 3) estudar as relações entre uso de instrumentos e desenvolvimento da linguagem.
- As funções psicológicas superiores, mecanismos intencionais que dão ao indivíduo autonomia junto ao seu meio não são processos inatos, mas se desenvolvem na internalização de formas culturais de comportamento.
- Linhas de pesquisa a destacar: desenvolvimento da criança (psicologia genética – gênese), desenvolvimento de um grupo cultural e dissolução de processos psicológicos (doenças e traumatismos).
- Vygotsky se esforçou para estudar o ser humano como: 1)corpo humano; 2)ser biológico e social; 3)membro da espécie humana; 4)participante de um processo histórico.
- Principais idéias de Vygotsky: 1) na relação entre indivíduo e sociedade: as características humanas não são inatas nem resultado único da pressão do meio, mas interação dialética entre homem e meio sócio-cultural (lembrar do processo de internalização / transformação!). “As funções psicológicas superiores surgem da interação dos aspectos biológicos (...) com os fatores culturais”; 2)Há uma origem cultural das funções psíquicas (o desenvolvimento mental humano não é dado a priori, nem é imutável, passivo ou independente do meio histórico-social); 3) o cérebro é a base biológica do funcionamento psíquico, mas não é um sistema imutável e fixo, mas aberto e de grande plasticidade; 4) a linguagem é vista como sistema de mediação: o SIGNO (algo que tem um significado) é o mediador por carregar em si os conceitos generalizados e elaborados pela cultura humana. Há, portanto, uma mediação entre os instrumentos do mundo social e os signos; 5) processos psicológicos complexos diferenciam-se dos mecanismos mais elementares e não podem ser reduzidos à cadeia de reflexos, mas devem ser descritos a partir da consideração de sua origem histórico-social.
- Sobre o comportamento humano versus comportamento animal, considerar que: 1)todo comportamento animal conserva ligações com motivos biológicos; 2)todo comportamento humano não é forçosamente determinado por estímulos imediatamente perceptíveis ou pela experiência passada. Isso porque, além do conhecimento sensorial, o ser humano dispõe de um conhecimento racional; 3)além de definições hereditárias e da experiência individual, o ser humano dispõe da assimilação da experiência acumulada de toda a humanidade, diferentemente do animal que não aprende por imitação. Assim, o ser humano não é apenas produto do seu meio social, mas agente ativo dele. É então, fundamental compreender as relações entre a dimensão biológica e cultural. Vygotsky, então, vai estudar a evolução da cultura (aspecto sociogenético) e o desenvolvimento individual (aspecto ontogenético), principalmente na infância em que tais conteúdos são aprendidos porque começam o uso de instrumentos e da fala; 4)a mediação simbólica estabelece a relação do ser humano com o mundo e com outros seres humanos. Para haver tal mediação são necessários instrumentos (regulam ações sobre os objetos) e signos. Desse modo, a linguagem opera mudanças nos processos psíquicos da seguinte maneira: permitindo lidar com objetos mesmo quando ausentes (exemplo, a frase “o vaso caiu”); permitindo abstração e generalização (ver a palavra “árvore”); permitindo a comunicação, o intercâmbio. Em função disso tudo que Vygotsky afirma que os processos de funcionamento mental do ser humano são fornecidos pela cultura através da mediação simbólica.
- Sobre o desenvolvimento infantil na perspectiva sócio-histórica: 1)Vygotsky critica as concepções botânicas (“jardim da infância”) e zoológicas (comparação da criança com o desenvolvimento animal) do desenvolvimento humano. Devido às características histórico-culturais humanas, torna-se impossível considerar o desenvolvimento do sujeito como um processo previsível, universal, linear ou gradual; 2)o desenvolvimento humano vem do entrelaçamento de processos elementares de origem biológica (que têm preponderância no início da vida) e funções psicológicas superiores, de origem sócio-cultural; 3) o desenvolvimento do psiquismo humano é sempre intermediado por outro ser humano ou pelos signos, daí a importância do início da fala; 4)o desenvolvimento intelectual tem início quando a fala e a atividade prática, até então duas linhas independentes do desenvolvimento, convergem entre si.
- Sobre as relações entre pensamento e linguagem: 1)“Apesar de terem origens diferentes e de se desenvolverem de modos independentes, em uma certa altura, graças à inserção da criança no grupo cultural, o pensamento e a linguagem se encontram e dão origem ao modo de funcionamento psicológico mais sofisticado, tipicamente humano”; 2)a linguagem é um marco do desenvolvimento humano pois, através dela, os seres humanos são capazes de providenciar instrumentos auxiliares na solução de tarefas difíceis, superar a ação impulsiva, planejar a solução de um problema e controlar o próprio comportamento; 3) assim, a linguagem expressa o pensamento e o organiza, e representa a necessidade de comunicação; 4) durante o estágio pré-intelectual do desenvolvimento da linguagem (“fala”) há um contato social sem significado específico. Por exemplo, o choro da criança pode significar várias coisas; 5)já no estágio pré-linguístico do desenvolvimento do pensamento, nota-se a capacidade de resolver problemas práticos do ambiente como, por exemplo, subir em um sofá para alcançar um objeto; 6)na medida em que a criança interage e dialoga com os membros mais maduros de sua cultura, pensamento e linguagem se associam: o pensamento torna-se verbal e a fala racional. 7) então, o pensamento verbal torna-se predominante, mas o pensamento não-verbal (como ao dirigir um automóvel) e o pensamento não-intencional (ex: um cafuné), continuarão presentes por toda a vida; 8) surge então o discurso socializado: a fala serve como comunicação, mas ainda não serve para planejar; 9) A outra etapa consiste no surgimento do discurso interior: a fala, antes dirigida a um adulto para a resolução de um problema é internalizada: a criança começa a apelar para si própria para a resolução de problemas e a fala serve para planejar, prever, deduzir etc. 10)Para Vygotsky, há uma fala intermediária entre o discurso socializado e o discurso interior, em que a criança fala alto, mas fala para si, dialogando consigo para planejar. Ex: “Como vou pegar aquele doce? Ah, já sei...” Piaget chamou esse processo de fala egocêntrica (que viria de dentro para fora), do que discorda Vygotsky (ela viria de fora para dentro, da aprendizagem e interação anteriores). É possível observar essas etapas observando a forma que a criança desenha em vários momentos de sua vida.
- Aquisição da linguagem escrita: a linguagem escrita representa um novo salto no desenvolvimento, na medida em que promove modos diferentes e ainda mais abstratos de pensar, relacionar-se com pessoas e com o conhecimento. Sobre a pobreza do modo que comumente aprende-se a ler e escrever, Vygotsky comenta: “Ensina-se as crianças a desenhar letras, mas não a linguagem escrita como tal”.
- Notas sobre a interação entre aprendizado e de: a Zona de Desenvolvimento Proximal: 1)é o aprendizado que possibilita e movimenta o processo de desenvolvimento; 2) Vygotsky analisa a ralação entre aprendizado e desenvolvimento sob dois ângulos: a relação geral entre ambos e essa relação no período escolar. 3) são dois níveis de desenvolvimento: desenvolvimento real ou efetivo (conquistas já realizadas) e nível de desenvolvimento potencial (capacidades em via de serem construídas). No primeiro caso considera-se o que a criança já sabe fazer sozinha e no segundo o que ela poderá fazer com ajuda (este nível é bem mais indicativo do nível de desenvolvimento da criança, segundo Vygotsky); 3) a ZDP é a distância entre esses dois parâmetros e é iniciada pela aprendizagem. “A ZDP de hoje será o nível de desenvolvimento real de amanhã”.
- O processo de formação de conceitos e o papel desempenhado pelo sistema escolar: conceito é um sistema de relações e generalizações contidos nas palavras e determinado por um processo histórico-cultural. Os conceitos são de dois tipos: 1)conceitos cotidianos: construídos a partir da observação, manipulação e vivência direta; 2)conceitos científicos: conceitos não diretamente acessíveis à observação ou à ação imediata. Estes desenvolvem processos psicológicos superiores, pois envolvem operações como atenção deliberada, memória lógica, abstração, capacidade para comparar e diferenciar e não são aprendidos mecanicamente. A formação de conceitos começa em tenra infância, mas só se amadurece na puberdade. É, portanto, o ensino sistemático fundamental para alargas os horizontes da ZDP.
- Função da brincadeira no desenvolvimento infantil: Vygotsky estudou o brincar e deteve-se nas brincadeiras de faz-de-conta, quando a criança já é capaz de representar simbolicamente uma situação imaginária. A imaginação, funcionamento psicológico totalmente humano, não está presente nos animais, nem em crianças muito pequenas. Nessa modalidade de brincadeira (“brinquedo”), o pensamento, que antes era determinado pelos objetos do exterior, passa a ser regido pelas idéias, que servirão para representar a realidade (uma vareta vira uma espada, por exemplo), abstraí-la, detendo-se nos significados atribuídos pela brincadeira. No brincar, cria-se uma ZDP devido à distância entre o comportamento imitado na vida real e o do brincar, a atuação no mundo imaginário com regras a seguir, tudo visando a satisfazer desejos não realizáveis (dirigir um carro, guiar um barco etc.).
CAPÍTULO 3
- discordâncias em relação às concepções inatista e ambientalista: abordagem socio-interacionalista;
- materialismo dialético e construção de uma psicologia histórico-cultural;
- implicações para a educação: 1) valorização do papel da escola; 2)o bom ensino é o que se adianta ao conhecimento; 3)o papel fundamental do “outro”: colega / professor / família; 4) imitação e reconstrução de mundo (internalização).

CAPÍTULO 4
- a afetividade não se separa do intelecto;
- todas as funções psicointelectuais superiores aparecem duas vezes: nas atividades coletivas, sociais (funções interpsíquicas) e nas atividades individuais (funções intrapsíquicas). Então, a aprendizagem não é sem si mesma desenvolvimento, mas a correta organização de experiências que possibilitará o desenvolvimento mental.




Vygotsky, Lev Seminovitch – (1896-1934)
(cuidado quanto à grafia do nome: Vygotski, Vygotsky ou Vigotsky).

- Ser humano: um organismo ativo em um ambiente histórico e cultural.
- O ser humano se desenvolve entre possibilidades que encontra em seu ambiente: instrumentos jfísicos e ksimbólicos, desenvolvidos por gerações precedentes.
- A linguagem tem papel fundamental. A linguagem desenvolve o pensamento infantil que, paulatinamente, adquire a capacidade de se auto-regular. Assim, o sistema lingüístico reorganiza todos os processos mentais infantis. Por isso, por exemplo, é tão importante a aprendizagem de sensibilidade artística desde tenra idade.
- Há uma progressiva interiorização do meio social, mas é uma interiorização ativa.
- Estruturação do sujeito: dá-se por interiorização e transformação. Ao mesmo tempo em que se integra e interage com o meio social, o sujeito posiciona-se de modo crítico e transformador. Assim, a ajuda externa vai se tornando cada vez menos necessária e modifica-se gradativamente a atenção, a percepção, a memória e a capacidade de resolver problemas. Assim se dá a construção da realidade pela criança.
- Relação entre fala externa e pensamento: jaté 3 anos, a fala acompanha o comportamento; kentre 3 e 6 anos, a fala precede o comportamento (a criança anuncia o que vai fazer; la partir de 6 anos, a fala para si próprio começa a desaparecer e torna-se interna (no entanto, em situações difíceis, tende a reaparecer, auxiliando a atividade cognitiva).
- Pensamento verbal é como Vygotsky chama essas relações entre linguagem e pensamento que formariam as estruturas básicas da forma de pensar da criança (que não inclui nem todas as formas de pensamento, nem todas as formas de linguagem).
- Estudando a influência das diversas condições histórico-culturais e sua riqueza, Vygotsky não aceita uma seqüência universal de estágios cognitivos, como em Piaget. Para ele, os fatores biológicos operam sobre os sociais de forma significativa apenas no início da vida.
- Teorias sobre desenvolvimento e aprendizagem: Piaget diz que o desenvolvimento precede a aprendizagem, criando condições para ela; no modelo comportamental (Skinner), o desenvolvimento é aprendizagem, pois ambos seriam simultâneos e a aprendizagem seria o acúmulo de respostas aprendidas; há um terceiro modelo, no qual o desenvolvimento e a aprendizagem seriam processos independentes que interagem (um causa o outro). Vygotsky considera os três modelos insatisfatórios, embora aceite as propostas do terceiro. Isso porque a inteligência, segundo ele, já é uma habilidade para aprender e não resultante de aprendizagens já realizadas.
Zona de Desenvolvimento Proximal (ou Zona de Desenvolvimento Potencial): é a distância entre o nível de desenvolvimento atual (determinado pela capacidade de resolver problemas sem ajuda) e o nível potencial (proximal) de desenvolvimento (solução de problemas sob a orientação ou colaboração de pessoas mais influentes). Assim, duas crianças com aparente desempenho intelectual semelhante (maturação e aprendizagem prévias semelhantes) podem ser muito diferentes quanto às condições do desenvolvimento que precisa ser construído. Exemplo: crianças filhas de engenheiros, músicos ou pais analfabetos, respectivamente, teriam diferentes possibilidades para aprender poesia.
- Então, as diferenças entre ambientes sociais promovem aprendizagens diversas que ativam processos de desenvolvimento diversos, ou seja, a aprendizagem precede o desenvolvimento intelectual, ao invés de segui-lo ou ser coincidente com ele. Por isso, a ZDP possibilita compreender as funções de desenvolvimento que estão a caminho de se completar.
- O conceito de ZDP pode ser utilizado para determinar: ja forma que a criança organiza a informação; ko modo como o seu pensamento opera. Ou seja, é preciso conhecer as formas que a criança organiza a informação com ou sem ajuda externa.
- As formas verbais nas relações entre professor e aluno determinarão a complexidade dos pensamentos das crianças e como processam novas informações. Eis, por exemplo, como se dá a aprendizagem social do medo que temos, geralmente, do “novo” ou de “decepcionar”.
Em resumo, para Vygotsky, o desenvolvimento é a apropriação ativa do conhecimento disponível na sociedade – sua maneira de agir, sua cultura. A maior complexidade desse processo (funcionamento intelectual) desenvolve-se graças a regulações realizadas por outras pessoas que serão substituídas por auto-regulações (em especial, a fala, que permite, por excelência, todo o processo de desenvolvimento em sua complexidade).

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